Medo das formigas

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The lovers, René Magritte 1928

Medo de amar demais
Ou de não amar ninguém.
Medo de cair
E de amar o lugar em que caí.
Medo de ficar no vácuo
Ou do meu olhar ser correspondido.
Medo de falar algo errado
Ou de ficar só calado.
Medo de terminar primeiro
E de ela sair pra se satisfazer.
Medo do pai dela já me conhecer.
Medo de uma irmã dela ser mais bonita.
Medo de dizer o seu nome a algum amigo
Medo dele tê-la conhecido antes de mim.
Medo de, um dia, depois de tudo, nos separarmos.
Medo de ligar agora, a essa hora.
Medo do não, medo do sim.
Medo do primeiro beijo, e do adeus.
Medo de começar
O que não vou conseguir terminar.
Medo dessa história de amor
Que começaria pelo fim.
Medo das estrelas
Medo das formigas.

 

Convivendo na solidão

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The Bridge at Grez sur Loing, Corot Camille

Não há ninguém, e há todos
                                         Murilo Mendes

 

Sinto-me sozinho
Com medo da morte
Mais ainda dos cabelos brancos.

Sento-me numa ponte qualquer
Numa cidade qualquer
E o que eu espero?

Eu espero a morte de todos
Pra me sentir mais sozinho
Ou mais reconfortado.