Ser lembrado e amado

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Portrait of Emilio Terry, Salvador Dali

Escrever nunca foi um problema. Talvez apenas o ritmo frenético das ideias, às vezes, incompatível com o titubeante toque dos dedos nas teclas. Ou as ideias dispersas que não se juntam (espalhadas que vieram ao longo das horas do dia), gado manso, naquela determinada hora que tento recolhê-las no curral do texto. Poesia é outra coisa. Estou acostumado. Poesia é pássaro que a gente cria solto. E é ele que chega e vai a hora que quer. Não depende de nós – apesar da mutualidade tácita. Ninguém senta para escrever um poema com hora marcada. A disciplina é estar com tempo para ela na hora surpresa que ela chegar.

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Não tenho o hábito. Hábito que ao mesmo tempo automatiza o ato de escrever e dá vazão a ideias paradas. O hábito necessário de sentar e escrever todos os dias num local e hora determinados, por um período idem. Neste momento não tenho sequer uma mesa – mas aí penso em Balzac e em todos aqueles que escreviam, apesar das condições adversas. E ainda nem mencionei o ‘por que escrever, e para quem’. No meu caso, o que admiro na obra dos outros – além da invenção, claro – é a materialização de pensamentos lógicos e ilógicos. Aqueles pensamentos e ideias sobre os mais variados temas que enchem nossa cabeça. Porque escrever também é uma forma de pensar, e nem tudo que você escreve você pensou antes. E nem vou mencionar aquele texto que você imaginou e, na hora de escrever, saiu outro. Que pode ser melhor ou pior que o pré-escrito. Então, eu escrevo para fixar e materializar meus pensamentos, dirigindo-os ao futuro. Não tem pretensão. Todo mundo quer ser amado e lembrado.

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